No início do ano de 2023, participei do acampamento para promotores de missões e foi lá que conheci o projeto Vila Minha Pátria, uma casa missionária em que várias famílias afegãs refugiadas estão sendo recebidas e cuidadas. Quando ouvi sobre o projeto, o meu coração se encheu de vontade de visitar a Vila, mas eu não sabia como isso ia acontecer. Quatro meses depois, a oportunidade chegou. Recebi um convite para participar de uma caravana que levaria 45 pessoas de várias igrejas batistas. Passei apenas um dia na Vila Minha Pátria e descobri tantas coisas sobre o projeto e sobre os afegãos!
O projeto começou quando chegou ao conhecimento do Pr. Fernando Brandão a necessidade de acolhimento para tantos refugiados afegãos, e ele se sentiu desafiado a fazer alguma coisa por aquelas famílias. Ao buscar apoio, o Pr. Fernando conheceu o dono de um sítio com vários chalés, que era usado para acampamentos da igreja. Porém, com a pandemia da COVID-19, o local encontrava-se desativado. O proprietário do local cedeu as instalações para o projeto de acolher nesse momento a demanda de afegãos e assim começou o projeto Vila Minha Pátria, em Morungaba, no estado de São Paulo.
No dia da minha visita à Vila Minha Pátria, 24 de junho, assisti à Formatura da 3ª turma de Língua Portuguesa. Era uma turma com 8 alunos e alguns eram da mesma família. Chegou a hora de cantarem o Hino Nacional do Afeganistão e, depois, do Brasil. Como não se emocionar ao ver os olhos cheios d’água de uma jovem formanda afegã, ao cantar o Hino Nacional de seu país, de onde foi obrigada a sair, fugindo do regime Talibã, deixando para trás sua faculdade, seus pais e seus amigos?
Dentre os formandos, um rapaz e uma moça fizeram um belo discurso, em Português, com apenas 3 meses de estudo da língua. Como não se emocionar diante de algo tão extraordinário? Ao fim da formatura, houve a entrega de medalhas para os alunos que se destacaram. Porém, essa turma foi muito especial, porque todos os alunos eram muito bons. Assim, um aluno recebeu medalha de prata (2° lugar) e três alunas receberam medalha de ouro (1° lugar).
O interessante é que essa turma, que se destacou tanto, teve um professor novato, ou seja, ele nunca tinha ensinado a Língua Portuguesa para estrangeiros antes. Porém, os alunos gostaram tanto dele que pediram para ele ser o professor deles no próximo módulo também. Quando perguntei ao professor qual era o segredo dele ter conseguido tal êxito com aqueles alunos, ele disse: “Dependência total de Deus”.
As famílias afegãs são geralmente grandes e com muitos filhos. Cada uma delas tem o seu próprio chalé. Elas são acolhidas, amadas, respeitadas, ajudadas e algumas se aproximam do Senhor por causa do amor e do cuidado que recebem das pessoas que integram a equipe missionária do projeto, sob a liderança de Fabíola Molulo.
Na Vila, as crianças afegãs já estão todas matriculadas em escolas da Prefeitura. A cidade recebeu muito bem as crianças e elas estão se adaptando com facilidade. Elas recebem também reforço escolar no projeto. Uma curiosidade que descobri é que os maridos afegãos não deixam as esposas lavarem as panelas pesadas do jantar – eles é que lavam.
Existem muitos momentos alegres e descontraídos como, por exemplo, quando formam um grande círculo cantando e dançando ao som do violão. As crianças pedem as músicas que desejam cantar!
Para encerrar a noite da nossa visita com chave de ouro, tivemos a boa notícia de que a nossa caravana adiaria algumas horas o retorno da viagem! Assim, foi possível testemunhar a recepção de mais 11 afegãos que chegaram para ser acolhidos na Vila Minha Pátria.
Estávamos todos juntos, quando, de repente, uma pessoa surgiu com a bandeira do Brasil. Em seguida, duas crianças seguravam a bandeira do Afeganistão. A Fabíola ensinou o “Bem-vindos” na língua afegã, que nós iríamos dizer quando as novas famílias chegassem. A casa estava em festa e, com a presença da nossa caravana, a festa ganhou uma proporção ainda maior!
A Fabíola deu as boas-vindas à nova família que acabara de chegar e anunciou que naquele momento estava acontecendo um reencontro de uma mãe com a sua filha e a sua neta. Como não se emocionar?
A Vila Minha Pátria tem sido um lugar de cura, de esperança e de recomeço. Esse projeto nasceu no coração de Deus e, em parceria com as igrejas batistas, tem conseguido cumprir o “ide” do Senhor. Louvado seja Deus pela obra missionária em nossa nação!
Texto: Silvia Velasco Costa – Membro da Primeira Igreja Batista do Rio de Janeiro (RJ)